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Ilustração de @daniel.bueno.180

É possível vencer

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O socialismo que esteja à altura do nosso tempo não pode ser um sonho longínquo. Tem que partir das tendências e conflitos em curso, impulsionando o movimento real que supera o atual estado de coisas - essa é uma tarefa que vai além da necessária unidade eleitoral para derrotar a direita.

O texto a seguir está na 5ª edição impressa da Jacobin Brasil. Adquira a sua edição avulsa ou assine um de nossos planos!


Faz alguns anos que o céu da política brasileira está nublado. Dos fatídicos acontecimentos que levaram ao impeachment de Dilma Rousseff até a chegada de Bolsonaro ao poder, têm sido anos difíceis para a esquerda. Com as nuvens encobrindo as estrelas-guia e as referências que sempre a nortearam, a classe trabalhadora brasileira, pelo menos uma parte dela, se viu envolvida nas mentiras destiladas pelos setores mais atrasados da burguesia nacional. Mas nós também navegamos na sombra da vitória dos nossos inimigos. 

Não nos enganemos: não é uma sombra qualquer. Nos últimos quatro anos a direita brasileira demonstrou uma razoável capacidade de organização política, uma escancarada ausência de escrúpulos morais e um impiedoso e brutal revanchismo. A chegada dessa direita à Brasília trouxe de novo ao centro do palco as piores alianças políticas possíveis. Da pequena burguesia que não tolera o filho da empregada na universidade ao mais mesquinho televangelista, todos do bloco de poder da reação aplaudem Bolsonaro na destruição dos direitos dos trabalhadores, das nossas florestas e das conquistas democráticas. 

É de se espantar que muitos se entregam ao desânimo. Nós da Jacobin Brasil somos inimigos da desesperança, e por isso preparamos uma edição inteira dedicada à estratégia socialista. Nunca deixamos de ter nítido na consciência qual farol nos norteia, por mais encoberto que o céu possa estar em tempos sombrios. Apresentamos nesta edição um modesto esforço de síntese das discussões que o pensamento socialista brasileiro, no que tem de vivo e pujante, produziu no tempo presente. Essa edição é, também, um manifesto contra a melancolia de esquerda.

Aprender com o passado, confiar no futuro

A primeira coisa para lutar contra o desânimo é lembrar que o nosso não é apenas um desejo, mas uma tarefa. A mais bonita das tarefas: armar de uma estratégia eficaz para a nossa época o antigo sonho da emancipação humana. 

Como vocês poderão ler em muitos dos textos desta edição, o problema da reflexão estratégica socialista nasce com a própria classe trabalhadora. As ideias socialistas nascem e amadurecem em consonância histórica com o desenvolvimento político da classe trabalhadora e da sua luta contra as injustiças na sociedade burguesa. Portanto, a primeira coisa que precisamos lembrar é que as nossas ideias, as de transformar radicalmente a vida humana, não começaram ontem.

“Ao olharmos para a história do ponto de vista da classe trabalhadora, veremos que em cada momento de agonia se acendeu também uma fagulha de esperança.”

Aprender com a história e com aqueles que vieram antes de nós, nos faz perceber que foram muitos os momentos trágicos que o capitalismo, na sua desenfreada sanha por mercados, territórios e lucro, empurrou toda a humanidade. Mas ao olharmos para a história do ponto de vista da classe trabalhadora, veremos que em cada momento de agonia se acendeu também uma fagulha de esperança. E sempre que essa chama vingou foi porque estava depositada na ação coletiva, no poder social dos de baixo e no movimento autônomo das maiorias populares.

Nos grandes levantes de massas e nas principais conquistas sociais ou trabalhistas as ideias socialistas estavam presentes como uma estrela-guia, animando o ardor revolucionário de operários, camponeses, intelectuais e estudantes que acreditavam não só na ideia de um futuro de liberdade para todos e na abolição da sociedade de classes, como também confiavam no poder de sua ação em comum, na sua participação coletiva em um sujeito histórico de mudança.

É com eles, os que ergueram a bandeira vermelha antes de nós, que também queremos aprender quais erros não devemos repetir. Não foram poucas as organizações socialistas destruídas porque subestimaram a capacidade de cooptação do regime democrático liberal, ou escorregaram em sectarismo purista, caindo na impotência do isolacionismo. 

Grandes partidos operários de massas, como o Partido Comunista Italiano (PCI), foram pulverizados pela força do inimigo, enfraquecidos pelos próprios passos em falso. Inúmeras organizações, muitas em nosso continente, tiveram suas fileiras despedaçadas porque subestimaram os problemas de machismo, racismo ou Lgbtfobia. Na maior parte dos casos, o pior crime dos socialistas foi o de dar as costas à classe trabalhadora, de perderem a sintonia com as massas. De todas as lições aprendidas, a mais importante é ter os olhos voltados para a nossa classe, a classe que carrega o futuro nas mãos. 

E são muitas as razões para não desanimarmos e confiarmos na classe trabalhadora brasileira. Em primeiro lugar, porque ao contrário do que nos querem fazer acreditar, os trabalhadores brasileiros do século XXI estão muito mais concentrados, instruídos, racialmente letrados e porque não com mais disposição de lutar. 

“Para realizarmos escrupulosamente nossas fantasias, temos que exercer a convicção de que não apenas é preciso lutar, mas que também é possível vencer.”

Os trabalhadores brasileiros e os movimentos sociais nos encheram de exemplos de lutas, resistência e solidariedades. A nossa classe já está cotidianamente em luta. A nossa tarefa é aproximar essas lutas da vitória e aumentar suas chances de sucesso. Construir o socialismo no nosso tempo significa arrancar do tempo presente as conquistas que mudem materialmente a vida dos que não têm nada.

O socialismo que esteja à altura do nosso tempo não pode ser um sonho distante e longínquo, tem que partir das tendências e conflitos em curso, impulsionando o movimento real que supera o atual estado de coisas. Essa é uma tarefa que vai para além da necessária unidade eleitoral imediata para derrotar a direita. Para realizarmos escrupulosamente nossas fantasias, temos que exercer a convicção de que não apenas é preciso lutar, mas que também é possível vencer.

Sobre os autores

é diretora editorial de Jacobin Brasil.

Cierre

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Published in América do Sul, História, Linha de frente, Política and Revista 5

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